DOWNSTREAM: A ETAPA DESCONHECIDA DO MERCADO DE COMBUSTÍVEL

Já parou para pensar em como os combustíveis e derivados do petróleo chegam naquele posto perto da sua casa? Agora você vai entender como funciona esse transporte (downstream) e quais são os desafios encontrados durante esse percurso!

 

Como muito já se sabe, a indústria petrolífera brasileira vem passando por um momento de transformação. Com a posição de quinto maior mercado de combustível do mundo, o Brasil tem a Petrobras como maior fornecedora durante seus 60 anos de existência. Com a descoberta do pré-sal, a atenção mundial se voltou para o Brasil e o mercado de petróleo brasileiro, gerando novos investimentos na área, exportações e leis específicas.

Infelizmente, nos últimos dois anos, com a crise da Petrobras, houve redução dos investimentos no setor, levando ao aumento do preço dos combustíveis e estagnação do mercado de petróleo brasileiro. Nesse momento de dificuldade econômica no Brasil, o Ministério de Minas e Energia propôs, em fevereiro de 2017, o programa Combustível Brasil a fim de repensar o setor de refino e distribuição de combustível.

Esse programa abrange pontos como a mudança no cenário de transporte e distribuição de combustíveis (setor de downstream), fomento a novos investimentos no setor de upstream, principalmente de refino, mudança nas regras de acesso e construção das infraestruturas portuárias.Tudo isso visando também o estímulo à competitividade e livre concorrência nos setores.

 

Upstream e downstream

Usamos esses termos estranhos, como upstream e downstream. Mas e aí, você sabe o que é isso?

Upstream é a área da indústria petrolífera que envolve a identificação, localização e exploração dos poços de petróleo, além do seu transporte até as refinarias. São nessas refinarias que serão produzidos os derivados à partir do refino: gasolina, diesel, óleos, querosene, e outros. Essa parte da produção, o refino, é chamado de midstream.

Já o downstream envolve toda a logística de distribuição e transporte desses derivados por todo o país. Por muito tempo a área de downstream no Brasil manteve-se com investimentos baixos, até a descoberta do pré-sal, que mudou esse cenário.

Mas aí você já sabe: com a crise da Petrobras, os investimentos voltaram a ser reduzidos e o setor de downstream voltou a conviver com as dificuldades que sempre conviveu.

 

Mas você sabe como ocorre esse transporte no Brasil? ​ ​

Apesar do modal rodoviário ser responsável por cerca de 67% do total de volume de carga transportado no Brasil, essa proporção não é seguida no setor de petróleo e gás.

Os meios mais utilizados são ferrovias, transporte por dutos ou por navios gigantescos, os petroleiros, que podem chegar a até 500 metros de comprimento (tão grande que chegam a usar bicicletas para atravessá-los – academia para quem, não é mesmo?).

Esses dutos e os petroleiros são os chamados transportes aquaviários, meios predominantes no Brasil e em todo o mundo. O que faz sentido, considerando que 85% da produção nacional de petróleo é extraída do mar.

Tanto o petróleo antes de ir para o refino quanto os derivados que saem refinados são levados a seus destinos predominantemente por esses transportes, dada a facilidade que eles trazem e, historicamente, os investimentos que sempre receberam.

Por esses motivos, vamos conversar um pouco mais sobre esse tipo específico de transporte.

 

Dutos ​ ​

Pela maior competitividade frente a outros modais, o transporte dutoviário é considerado estratégico. Essa preferência se baseia no fato de que deve haver um transporte contínuo quando se trata de grandes volumes de fluidos, não podendo se sujeitar a incertezas meteorológicas ou engarrafamentos.

Os grandes volumes transportados e os baixos custos de manutenção do modal compensam os altos investimentos necessários para a construção e implantação de uma malha de dutos, como equipamentos, mão de obra, desapropriações e direito de acesso às terras.

Por sua vez, os dutos ainda podem possuir duas empregabilidades: transferência transporte. Enquanto os de transferência são usados para movimentação dentro de uma mesma empresa, os dutos de transporte são as conexões de pontos de oferta e a pontos de consumo. Estamos focando neste segundo tipo de duto.

 

Petroleiros ​ ​

Considerando que quase todo o petróleo a ser processado, é deslocado até as refinarias por navios, e que grande parte dos derivados refinados voltam a esses navios para serem distribuídos pelos portos nacionais e internacionais, os petroleiros são extremamente relevantes na cadeia exploratória e comercial petrolífera brasileira.

Esse transporte é feito majoritariamente pela FRONAPE, a Frota Nacional de Petroleiros, pertencente a Petrobras, sendo a maior transportadora de petróleo e derivados do hemisfério do Sul e uma das maiores do mundo (nada mal, não é mesmo?). Os navios atracam em terminais marítimos, que são pontos de carga e descarga dos produtos para serem deslocados ao destino final, e portanto, grande parte da logística do processo.

Dentro dos navios, existem diversos canos que servem para o transporte dos óleos entre os diversos tanques, para manter o equilíbrio. Eles seguem a própria força da gravidade. Os carregamentos entram e saem por dois pontos de conexão com os terminais, movidos por bombas. Um petroleiro médio é capaz de carregar 330 milhões de litros de produto.

Para evitar que acidentes ocorram, foi elaborada uma lei seguida na Europa e nos Estados Unidos que obriga os petroleiros a usarem cascos duplos. Eles oferecem maior proteção aos navios do que cascos simples e impedem o contato de vazamentos com o mar. No Brasil isso ainda não é regra.

 

Os transportes aquaviários e o meio ambiente ​ ​

Navios e dutos tão grandes como estes carregam cargas que requerem muito cuidado e, infelizmente, ambos os meios passam por várias dificuldades diárias que podem levar a perda de produto e serem prejudiciais ao meio ambiente.

Primeiro vamos falar, rapidamente, sobre como o meio ambiente é afetado pelo transporte do petróleo e derivados.

 

Muitas notícias já relataram vazamentos massivos de petróleo que prejudicaram ecossistemas inteiros: o maior deles no Brasil foi o desastre na Bahia do Rio Iguaçu, onde houve um vazamento na refinaria da Petrobras. Mais de um milhão de galões de óleo foram liberados no meio ambiente.

E isso não chega nem perto do caso do Golfo do México, um vazamento de gás que provocou uma explosão em uma plataforma petrolífera e liberou aproximadamente 206 milhões de galões de petróleo na água. O estrago feito aos ecossistemas atingidos se propaga até hoje, 7 anos depois. Foi o maior acidente ambiental envolvendo petróleo da história.

Dá para ter uma ideia do impacto que a falta de cuidado com esse produto pode causar, não é mesmo? Então vamos entender melhor alguns dos problemas causados durante esse transporte e como preveni-los.

 

Temperatura ​ ​

Alguns dos derivados de petróleo transportados, principalmente combustíveis, possuem pontos de inflamação muito baixos. A gasolina, por exemplo, pode se inflamar a 40ºC! Além disso, o aumento da temperatura nos tanques causa a expansão dos produtos, ou seja, o volume deles é aumentado e isso pode gerar vazamentos.

Por essas razões, é necessário que haja um controle rígido de temperatura dentro dos locais de armazenamento. Não apenas existe uma temperatura máxima permitida, mas também uma mínima, porque os combustíveis podem sofrer alteração em sua viscosidade e haver complicações no transporte pelos canos dentro do navio ou para fora.

Como não é recomendado armazenar os combustíveis em altas temperaturas, é necessário que hajam aquecedores na saída dos tanques e controle de temperatura das tubulações, para que o bombeamento possa ocorrer. Também é usado um respiro, ou seja, um conector que leve a uma área segura caso haja vazamentos ou liberação de gás.

Além disso, mesmo com o controle da temperatura, o combustível realiza a expansão. De fato, a expansão será menor com esse controle rígido, porém não será anulada. Por isso, é necessário que se tenha um espaçamento no interior do tanque para minimizar o risco de um derramamento por expansão.

O que torna evidente essa expansão, tanto por meio do calor quanto pela agitação das moléculas durante o transporte, é a necessidade de esperar o resfriamento antes do posto de combustível comprar o produto. Uma vez que o preço do combustível é baseado no volume, é preciso esperar um resfriamento do conteúdo transportado para que não se pague um preço maior pelo mesmo.

 

Pressão ​ ​

Assim como o controle da temperatura, também é necessário haver um controle rígido da pressão nos tanques de armazenamento. Isso tanto para a segurança quanto para evitar a perda de produto.

Essa perda pode ocorrer causada pela alta volatilidade dos combustíveis, ou seja, sua facilidade de virar gás devido às suas pressões de vapor (propriedade que define a facilidade de uma substância passar de líquida para gasosa), o que leva a liberação desse gás e perda do produto em volume. Tal mudança de estado físico só cessa ao alcançar o equilíbrio termodinâmico.

Como a formação de gás causa perda do combustível, o ideal seria que houvesse um controle da pressão dentro dos tanques, para evitar que ela seja muito baixa. As pressões baixas diminuem o ponto de ebulição de uma substância (ela evapora mais rápido) e sua pressão de vapor. Logo, em pressões mais baixas, há maior volatilidade dos combustíveis e maior perda deles.

Além disso, relacionado ao aumento da temperatura, a expansão de volume do produto faz com ele pressione os limites dos tanques de armazenamento e dutos, causando um aumento de pressão perigoso internamente. Por isso, é importante também que a válvula de respiro seja usada nessas situações, para liberar o gás (caso seja formado) que pressiona os tanques.

Vamos fazer uma analogia com o funcionamento de uma panela de pressão. Com o aumento da temperatura, tem-se a expansão de gás no seu interior, resultando também no aumento da pressão. Esse aumento de pressão faz com que o ponto de ebulição aumente e, finalmente, o alimento irá cozinhar sem evaporação.

O mesmo deve ser feito com o combustível: a pressão é aumentada para não ocorrer a mudança de estado físico de líquido para vapor. Porém, não se deve esquecer da válvula para limitar esse aumento.

 

Agora você sabe como o transporte de petróleo funciona! ​ ​

Agora, todas as vezes que você for abastecer o seu carro você vai saber como o combustível chegou até lá! E ainda, conseguir entender os impactos que podem ser causados quando não se tem um controle constante durante o transporte.​

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